Voluntariado: Reflexão para o mês de Março
“Sem voluntariado o bem comum e a sociedade não podem durar muito”
Bento XVI
Na União Europeia, são quase 100 milhões os cidadãos de todas as idades que investem o seu tempo, o seu talento e o seu dinheiro para dar um contributo positivo a favor da sua comunidade, através do voluntariado. É importante esta afirmação do Papa, porque cem milhões de pessoas que realizam um trabalho voluntário são muitas pessoas. Significa que os Estados não podem resolver todas as necessidades e carências dos seus cidadãos.
É uma lição de solidariedade e de gratuidade que os povos da Europa oferecem a outros continentes e culturas. Podemos deduzir que as raízes cristãs da Europa ainda estão vivas e que o húmus do cristianismo ainda orienta a alma dos povos europeus, mesmo que muitos já não se reconheçam como cristãos.
Até ao século XIX, a miséria que dizimava populações inteiras tinha, com muita frequência, uma origem natural. Hoje está mais circunscrita, e na maioria das vezes deriva da acção humana. Basta citarmos algumas regiões ou países para nos convencermos disto: Etiópia, Camboja, ex-Jugoslávia, Ruanda, Haiti... Agora que o homem, mais do que outrora, tem a possibilidade de enfrentar essa miséria, tais situações constituem uma verdadeira desonra para a humanidade.
A solidariedade é, sem dúvida, uma exigência para todos. Felizmente, não é necessário esperar que a maioria dos homens se converta ao amor do próximo para se recolherem os frutos da acção daqueles que agem sem esperar, no contexto da sua própria situação. É preciso acolher como uma sólida razão de esperança os resultados da acção das pessoas que, a todos os níveis, exercem a sua actividade como servidores do homem todo e de todos os homens.
Há-de ser a ideia duma justiça arreigada na solidariedade humana - e que leve portanto o mais forte a ajudar o mais frágil - a guiar os nossos passos em todos lugares onde se faz ouvir a voz do pobre, a fim de se criar um espaço comum onde justiça, paz e caridade conjuguem os seus próprios esforços.
As sociedades não podem construir-se legitimamente sobre a exclusão de alguns dos seus membros. Para ser coerente, esta afirmação implica evidentemente também o direito que têm os pobres de se organizarem para melhor obter a ajuda de todos com a finalidade de se libertarem da miséria.
Não entram nessas cifras do voluntariado tantas pessoas que oferecem o seu tempo e a sua solidariedade sem estarem inscritos nos registos das organizações do voluntariado, e que eu ousaria chamar “voluntários silenciosos”: aqui se poderiam enumerar milhares de indivíduos que voluntariamente prestam serviços às pessoas mais próximas: cuidam e acompanham idosos, levam uma refeição quente ao pobre da esquina, acompanham ao médico a amiga ou o amigo em aperto. Poderíamos falar de muitos casos que nunca aparecerão nas listas oficiais, mas, se essa solidariedade desaparecesse, certamente que a sociedade e o bem comum não poderiam durar muito.
Padre Ramón Cazallas